Biomimética
Biomimética
A biomimética é uma “nova” área da ciência que tem por objetivo o estudo das estruturas biológicas e das suas funções, procurando aprender com a Natureza, suas estratégias e soluções, e utilizar esse conhecimento em diferentes domínios da ciência. A designação desta recente e promissora área de estudo científico provém da combinação das palavras gregas bíos, que significa vida e mímesis que significa imitação. Simplificando, a biomimética é a imitação da vida.
Na medicina sempre se pensou em biomimética.
Na reposição hormonal, por exemplo, o uso dos hormônios sexuais como a testosterona e os estrogênios para tratar os sintomas da sua falta quando os homens e mulheres envelhecem ou quando elas entram na menopausa.
Nascemos, crescemos e atingimos a maturidade quando estamos prontos para a reprodução estimulados pelos hormônios sexuais, a testosterona e os estrogênios, como nossos agentes anabolizantes. Agentes que fazem nosso organismo atingir a plenitude.
A mulher é mais penalizada pela natureza pois quando chega a menopausa ela tem um perda abrupta e definitiva da função da suas gônadas, os ovários. Os homens também vivenciam essa perda, manifestando um estado catabólico progressivo, mas mais lentamente. A chamada andropausa não se dá de maneira abrupta, com uma data, com a perda repentina da função gonadal. O homem normalmente preserva a função testicular por mais tempo e vai reduzindo aos poucos a produção da testosterona.
Usando o mimetismo biológico foi empregada a reposição hormonal de estrogênios, principalmente o estradiol, no tratamento dos sintomas apresentados pela mulher na menopausa. Começando pelos sintomas vasomotores como os fogachos, os calorões que se tornaram um clichê da mulher menopausada. Mas mais importantes, a secura vaginal que traduz um estado de hipotrofia da mucosa genitourinária que compromete não só a sexualidade mas também pode determinar infecções urinárias de repetição nessa mulheres. A perda de massa óssea, no inicio osteopenia e depois osteoporose, principalmente nas vértebras o que pode levar a um comprometimento da postura, arcando a mulher; e, no colo do fêmur, o que predispõe a sua fratura acompanhada de alta mortalidade. Outra perda, talvez a mais importante, é a cognitiva. Sendo a demência e o Mal de Alzheimer a sua expressão maior.
No final do século XX parecia aos ginecologistas que a reposição hormonal se abriria num vasto leque de oportunidades terapêuticas. Mas, com a publicação dos primeiros resultados do estudo WHI – Women’s Health Initiative, patrocinado pelo National Heart, Lung, and Blood Institute (NHLBI) do governo dos Estados Unidos, quando foram observadas dezenas de milhares mulheres menopausadas tratadas com o medicamento do laboratório Wyeth, PREMPRO – PREM de Premarin, estrógenos equinos conjugados obtidos da urina de éguas prenhas; associado ao PRO de Provera, medroxiprogesterona . O estudo foi randomizado comparativo ao placebo. Aquilo que se queria demonstrar com essa observação, a proteção cardiovascular, do câncer de mama e da fratura óssea por osteoporose, redundou nessa observação de 7 anos um fracasso que contaminou toda a TRH, como era conhecida a terapia de reposição hormonal. A partir daí todos os eventos da ginecologia eram para discutir o que deu errado no WHI. Para a empresa farmacêutica Wyeth, que era líder em produtos para a saúde da mulher como os anticoncepcionais, foi um desastre total. Terminou vendida para a Pfizer em 2009.
As críticas mais bem fundamentadas ao estudo caiam sobre as substâncias escolhidas. Os estrogênios, representados pelos estrógenos conjugados de equinos, são muitas substâncias diferentes, mais de dez, com ação de ocupar o receptor estrogênico, completamente diferente do estradiol que a mulher produz em grande quantidade na maturação do folículo ovariano. Dada a essa diversidade surgiu a grande idéia dos hormônios bioidênticos.
Agora, em 2017, dezoito anos após a tragédia daquela publicação do WHI, novos dados dessa observação foram publicados na revista JAMA – Journal of American Medical Association, 2017;318:927-938.
Esses dados observados em mais de 27.000 mulheres entre 50 e 79 anos ( média de 63 anos ) em que ocorreram em torno de 7.000 mortes nesses 18 anos de observação, agora mostram um resultado neutro para mortalidade cardiovascular e câncer. Melhor, nas mulheres que foram medicadas com estrogênios isoladamente observou-se menor mortalidade por demência de todas as causas, inclusive Alzheimer. Também nesse grupo foi menor a mortalidade por câncer de mama.
O que revelam esses novos dados? Que a mulher que tem sintomas deve ser tratada principalmente as mais próximas dos cinquenta anos e os melhores resultados são com o uso de estrogênios isolados.
O melhor estrogênio para esse tratamento é o estradiol bioidêntico. A administração desse estradiol deve ser feita evitando a via oral que impacta uma perniciosa primeira passagem pelo fígado. Pode ser empregado em gel aplicado na pele, em comprimidos ou gel vaginal ou ainda em implantes subcutâneos.
A mulher terá como benefícios comprovados hoje:
- o controle dos sintomas vasomotores, os fogachos;
- a garantia de um bom trofismo da mucosa genitourinária, melhor lubrificação vaginal e menor risco de infecções urinárias;
- menor perda ou até ganho de massa óssea, menor osteopenia ou osteoporose, com menor riscos de fraturas vertebrais ou do colo do fêmur; e,
- mais disposição para a vida e menor comprometimento cognitivo.
Outra certeza, que era temida por muitas mulheres que relutavam a terapia hormonal, é que seu risco para morrer devido a um câncer não estará aumentado. O estradiol na reposição hormonal não aumenta a mortalidade por câncer de mama. Está comprovado. Imaginem, e pelo estudo WHI.
E quanto ao homem. Também o biomimetismo leva a suplementar a testosterona naqueles que tem a sua redução importante, menor que 300 ng/dL, já na idade de 40, 50, 60 anos.
O temor na reposição da testosterona em homens é quanto a resposta da próstata. No entanto os níveis de PSA e exames de imagem, ultrassonografia e ressonância nuclear magnética, além das biópsias ajudam muito no controle das afecções prostáticas.
O homem também deve empregar a testosterona bioidêntica e evitar os tratamentos por via oral que terão o impacto da primeira passagem hepática. A testosterona pode ser empregada em gel para aplicação na pele ou em implantes no subcutâneo.
O homem submetendo-se a reposição hormonal e corrigindo seus níveis de testosterona ganha a vitalidade sexual, recupera um estado metabólico anabolizante. Ganha musculatura em resposta aos exercícios físicos e também massa óssea. Mas, a ação mais importante é na disposição geral: menor fadiga e maior raciocínio!!!