O PAPEL DO HOMEM NA CONTRACEPÇÃO.
Esse é um tema tratado já na Bíblia, no antigo testamento, no livro Gênesis.
Onã, filho de Judá e neto do patriarca Jacó, é descrito como praticante do coito interrompido, quando ele retirava o pênis da vagina e ejaculava fora para não engravidar a sua cunhada Tamar, viúva do seu irmão mais velho.
Daí a segunda possibilidade do homem ter controle na reprodução veio só no século XVI com o uso de um preservativo feito com intestino de animais e no início do século XX com o advento do látex ele teve também essa aplicação, só que neste caso em escala industrial. A camisinha tem uma vantagem adicional que é a de prevenir não só a gravidez não desejada como também evitar a transmissão das doenças via relação sexual como sífilis, gonorreia, e mais recentemente a AIDS. De fato a camisinha teve sua aceitação universal, exceto pelo Vaticano, a partir dos anos 1980 com a identificação do HIV, o vírus que causa imunodeficiência e leva a AIDS.
A partir do fim da segunda guerra mundial com o incremento da população mundial e com a conquista de maiores conhecimentos da anatomia e fisiologia do genital masculino iniciaram-se estudos e programas para a realização da vasectomia para a esterilização masculina.
Portanto, hoje, na prática, o homem que queira controlar sua capacidade reprodutiva pode lançar mão do coito interrompido, do preservativo ou submeter-se a vasectomia.
O coito interrompido pode dar certo oportunamente, mas é insatisfatório para o homem e para a mulher pela retirada do pênis da vagina para o orgasmo e ejaculação, limitando o prazer sexual. É também sujeito a muitas falhas.
O preservativo ganhou popularidade e hoje são disponíveis em diversas apresentações comerciais. São produzidos não só de látex mas com diferentes compostos, tamanhos, espessura, textura, cor, sabor e são disponibilizados comercialmente e pelos serviços de saúde pública.
Porém o uso dos preservativos é sujeito a falhas como anticoncepcional e também de alguma maneira não agradam boa parcela de casais. Provavelmente sejam mais empregados hoje como preventivo das doenças sexualmente transmissíveis.
A vasectomia é o método anticoncepcional mais eficaz. É de fácil realização numa cirurgia minimamente invasiva, sob anestesia local. Na técnica que eu emprego habitualmente após a vasectomia em si que é o corte dos vasos ou canais deferentes é realizada a cauterização da luz dos vasos que respondem com uma cicatrização que fecha a passagem para os espermatozoides. Isso é confirmado em um espermograma após 20 ejaculações e constatando-se a azoospermia, ausência de espermatozoides no líquido ejaculado, a esterilização é praticamente definitiva. Paradoxalmente isto no entanto pode tornar-se o único inconveniente da vasectomia e sua maior complicação. Caso o homem vasectomizado resolva ter outro filho isso não é garantido. Então a vasectomia é realizada naqueles homens bem esclarecidos sobre a sua irreversibilidade e que firmam essa consciência em documento assinado antes do procedimento.
Muita pesquisa tem sido realizada para o desenvolvimento de novos métodos anticoncepcionais reversíveis para o homem.
Em artigos publicados no MIT Technology Review em 20 de dezembro de 2017, e na revista TIME em 27 de dezembro de 2017, é anunciado para este ano o início da fase 2 dos estudos clínicos com um novo preparado hormonal, de uso diário, apresentado na forma de gel para aplicação na pele do homem que deseja o controle da sua fertilidade.
O gel contem nestorone associado a testosterona que empregado diariamente resulta na supressão de espermatozoides. É reversível com a interrupção da aplicação do gel. O nestorone é um progestínico que inibe a hipófise de enviar gonadotrofinas que estimulam os testículos na produção dos espermatozoides e também da testosterona. A testosterona combinada no gel minimiza o fato impedindo a diminuição do desejo sexual, o ganho de peso e alterações no colesterol potencialmente associadas com a menor produção da testosterona pelos testículos do usuário.
O produto foi desenvolvido por uma organização sem fins lucrativos dos Estados Unidos, o Population Council, que atua no planejamento familiar e na promoção da saúde e bem estar social há décadas.
O Population Council desenvolveu e licenciou alguns dos anticoncepcionais reversíveis de uso por longo prazo, de alta eficácia contraceptiva e utilizados pelas mulheres praticamente de todo o planeta, tais como os DIU – dispositivos intrauterinos, de cobre; o Mirena, também dispositivo intrauterino medicado com levonorgestrel, e o implante subcutâneo de levonorgestrel conhecido como Norplant.
No estudo que se anuncia para 2018 serão observados mais de 400 casais em centros de pesquisa dos Estados Unidos, Inglaterra e mais cinco países. Esse estudo é patrocinado pelo NIH – Instituto de Saúde do governo dos Estados Unidos.
A expectativa com este produto é auxiliar os casais a evitarem gravidez não planejada. Como por exemplo em períodos que as parceiras tenham alguma restrição para o uso de anticoncepcionais.
Historicamente as mulheres são quem assumem a responsabilidade da contracepção uma vez que são elas que ficam grávidas. No entanto numa época onde existe muita reinvindicação pela igualdade de gênero os homens mais jovens declaram estar interessados em contraceptivos masculinos, como este gel que potencialmente apresenta alta eficácia anticoncepcional, boa tolerabilidade com baixos índices de efeitos colaterais e reversibilidade.
Em inquéritos populacionais realizados recentemente pelo menos 25% dos entrevistados declaram considerar o uso de um anticoncepcional como este em desenvolvimento.
E você leitor ou leitora deste texto acredita que você ou seu parceiro poderia ter interesse em utilizar este gel anticoncepcional masculino?
Agradeço os seus comentários.